domingo, 23 de dezembro de 2012

E O MUNDO NÃO ACABOU...



Escrevo essas linhas na manhã do dia 22 de dezembro de 2012...

Segundo muitos acreditavam, o mundo não acabou...as profecias não se realizaram.

De qualquer maneira – já que o mundo não acabou mesmo – e a vida continua, posso “aproveitar o clima” e revisar alguns valores que estão norteando a minha vida.

Será que não poderia ser uma pessoa de hábitos mais simples, sem me estressar em ter muitas coisas, consumir, consumir, sempre os últimos modelos de qualquer coisa?

Será que não poderia prestar mais atenção em meus hábitos alimentares e colocar para dentro do meu corpo, ao invés desses “lixos” que se vendem por aí, alimentos mais saudáveis e nutritivos?

Já que o mundo não acabou, será que não poderia fazer circular as tantas coisas que tenho guardadas em casa e que não me servem para nada? Pra que dez pares de sapatos, se eu tenho apenas dois pés?

Será que não poderia tornar mais leve e prazerosa a jornada, reclamando menos da vida e sorrindo mais?

É... eu poderia fazer tantas coisas novas e diferentes...e acho que você também poderia, ou melhor, todos nós poderíamos ser diferentes!

Posso aproveitar que o mundo não acabou e recuperar o poder de decisão sobre a minha vida...e decidir que a partir de agora serei mais feliz e menos ranzinza, mas solidário e menos solitário, mais amoroso e menos rancoroso...

Puxa vida! Vamos pensar que estamos no dia 22 de dezembro de 2013, um dia após o final de um ciclo predito no calendário maia, um dia que pode ser o início de um novo tempo...

Para tanto, basta que tomemos a única decisão possível: MUDAR!

Pois a única coisa permanente no universo é a mudança...

Ótima mudança pra você, um ótimo 2013 e até o próximo fim do mundo!

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

O MÉDICO DE ANTIGAMENTE



Uma coisa que sempre gostei de fazer foi ouvir (e aprender) com pessoas mais velhas. Tive a feliz oportunidade de conviver com colegas mais antigos na profissão e quase todos afirmavam – com uma certa dose de nostalgia – que na sua época de estudantes tiveram acesso a uma formação onde a cultura humanística e a filosofia eram presença constante.

Falavam com uma ponta de orgulho de como eram respeitados e tratados sempre que reconhecidos por onde andavam. Todos faziam questão de ser seus amigos, convidando-os para um cafezinho a qualquer hora. Evidentemente aquela era uma época bem diferente dos nossos dias. A vida parecia deslizar preguiçosamente, os compromissos nunca eram tão urgentes e tínhamos tempo suficiente para saborear cada acontecimento, cada pessoa, em toda sua plenitude.

Parece que ainda os ouço dizer: “ – bons tempos aqueles...é bem verdade que não tínhamos os recursos de hoje, mas mesmo assim nos sobrava tempo para visitar nossos pacientes, conhecendo-lhes os hábitos, seu estilo de vida, familiares, seus problemas e seus sonhos.”

No início do ano letivo, os catedráticos de então, em suas aulas magnas, repetiam aos jovens acadêmicos as clássicas perguntas dos pensadores de todas as épocas:  “ – quem é, em essência, o Ser Humano? ...qual a finalidade da sua existência?...”

O tempo passou... a tecnologia chegou rapidamente, mudando a face do planeta e invadindo todos os ramos do conhecimento, inclusive a medicina. O aparato tecnológico transformou a arte médica em mera técnica, destruindo a aura quase sagrada que permeava a relação médico-paciente – a relação médico-paciente – basicamente uma relação de total confiança, transformando-a num encontro banal, fortuito e impessoal.

As clássicas perguntas foram para sempre suprimidas das aulas inaugurais de todas as faculdades de medicina e acabaram soterradas por montanhas de aparelhos de última geração e exames sofisticados.

Mas, apesar de emudecidas, continuam em silêncio, aguardando por suas respostas...

Para terminar este artigo, trago alguns trechos da belíssima crônica  do prof. Rubem Alves que nos mostra, de forma talvez nostálgica, a situação do médico nos dias atuais ( retirado de seu livro - “O médico” – ed. Papirus, 2002.)

“ – Antigamente, a simples presença do médico irradiava vida. Antigamente os médicos eram também feiticeiros...

.... A vida circulava nas relações de afeto que ligam o médico àqueles que o cercavam. Naquele tempo os médicos sabiam dessas coisas. Hoje não sabem mais.

...O médico de antigamente era um herói romântico, vestido de branco. As jovens donzelas e as mulheres casadas suspiravam ao vê-lo passar. Ainda bem que a consulta permitia o gozo puro do toque da sua mão...

...O cavaleiro solitário que luta contra a morte é um santo. Quem, jamais, ousaria pensar qualquer coisa de mau contra o médico? Hoje são comuns os processos contra os médicos por imperícia. Ser médico transformou-se num risco. Porque ninguém mais acredita na sua santidade. Talvez porque eles tenham deixado mesmo de ser santos...

...Eu me apaixonei pela imagem. Queria ser feiticeiro. Queria ser o cavaleiro solitário que luta contra a morte. Queria ser o santo....

...Não fui médico. Mas segui pela vida encantado por aquele quadro. O encanto foi quebrado quando fui fazer meu doutoramento nos Estados Unidos. Um dia fui ouvir uma palestra do diretor do hospital da cidade de Princeton, NJ, onde eu estudava. Ele começou sua preleção com esta afirmação que estilhaçou o quadro: “O hospital de Princeton é uma empresa que vende serviços”. “Meu Deus”, eu pensei. “Aquele médico não existe mais”. E percebi que, agora, os médicos se encontram lado a lado com os prestadores de serviço, os encanadores, os eletricistas, os vendedores de seguros, os agentes funerários, os motoristas de táxi. É só procurar na lista de classificados. A presença mágica já não existe. O médico é um profissional como os outros. Perdeu sua aura sagrada.

E me veio, então, uma definição do médico compatível com a definição que o diretor deu para o hospital de Princeton: “um médico é uma unidade biopsicológica móvel, portadora de conhecimentos especializados, e que vende serviços.”

... Acho que os médicos, hoje, são infelizes por causa disto: eles resolveram ser médicos por desejar ser belos como o cavaleiro solitário, puros como o santo, e admirados como o feiticeiro. Era isso que estava dentro deles, ao tomarem a decisão de estudar medicina. E é isso que continua a viver na sua alma, como saudade...

É. A vida lhes pregou uma peça. E hoje a imagem que eles vêem, refletida no espelho, é a de uma unidade biopsicológica móvel, portadora de conhecimentos especializados, e que vende serviços...Os médicos sofrem por saudade de uma imagem que não existe mais.”